Naquela manhã nada estava igual por ali, lembro-me de ter
pego algumas frutas e levado um livro velho para reler, eu sempre gostei de me
sentar perto de arvores e esperar as pessoas passarem atarefadas,
descompensadas, enlouquecidas ou simplesmente passarem, aquilo me deixava certa
de ainda estarmos vivendo a vida cada qual a sua maneira e de que quando
voltasse para casa nada estaria sem graça.
E então em meio a páginas e capítulos terminados, maças
comidas e o sol mudando de posição ela apareceu. Uma menina que corria
enfurecida, ela devia ser uns 4 anos mais nova do que eu e carregava consigo
uma enorme caixa cor de rosa e um rosto avermelhado.
Juro, eu não faço o tipo curiosa bisbilhoteira, mas aqueles
olhos me eram familiares, aquele desespero sendo controlado por ações
repentinas, e ao mesmo tempo planejadas já haviam passado por mim antes.
Fiquei em silencio, paralisada sem tentar imaginar o que
viria a seguir. Ela com seus olhos inchados sentou-se um pouco a frente de mim
e por alguns minutos leu cartas, rasgou papeis, reuniu forças e colocou todos
os objetos, alguns impossíveis de identificar pela distancia, novamente na
caixa e andou até a lata de lixo mais próxima para joga-los lá dentro como se
estivesse se desfazendo do mais alto nível de sujeira.
Depois em um enorme impulso correu para dentro do lago (que como
estávamos em julho deveria estar gelado), sua pele branca foi avermelhando cada
vez mais e devagar conforme andava a agua aumentava em seu corpo, fiquei com
medo do que mais ela poderia fazer e resolvi espirrar para ela perceber que não
estava sozinha, de nada adiantou, pois ela nem sequer olhou para traz.
Voltei a ler meu livro inquieta quando depois de um tempo vi
o vulto da garota saindo da agua calmamente e andando em direção à saída. Após
alguns minutos com o sol se pondo resolvi ir embora passei perto do lado para
caminhar como de costume e encontrei pedaços de fotos rasgados por onde ela
havia passado. A garota da foto não parecia nada com a que chegou, mas era
exatamente igual a que saiu.
Não sei se ela havia brigado com uma amiga, terminado com o
namorado, se desiludido ou perdido alguém, como disse antes não faço o tipo
bisbilhoteira, mas chegando a minha casa percebi que já tinha visto alguém como
ela em mim. Ela não era nenhuma louca ou bipolar como muitos podem pensar, mas
aquela menina estava apenas tentando suicidar a pessoa que não queria ser,
afogar seus sentimentos para se livrar de algo que não a fazia bem.
Conto isso a vocês para que não se sintam sozinhos com seus
sentimentos insanos, todos temos, todos somos assim, de maneiras diferentes em
momentos diferentes. Mas sabe o importante é cortar uma erva daninha a cada
dia, levantar, respirar e perceber que hora de dar mais um passo sorrindo.
PS: gosto de ficar imaginando histórias de fotos que julgo
serem bonitas, resolvi que irei dividir mais essas histórias com vocês, às
vezes é realmente bom saber que todos sentimos coisas iguais mesmo que de nossa
própria maneira. Quando tiverem coisas que querem falar ou divulgar, mande para
mim pelo e-mail ou pela fan page faz bem falar de vez em quando.
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